terça-feira, 11 de maio de 2010

Neurónios-espelho


Um neurónio espelho é um neurónio que dispara tanto quando um animal realiza um determinado acto, como quando observa outro animal (normalmente da mesma espécie) a fazer o mesmo acto.

Estas células cerebrais chamadas de espelho são capazes de analisar cenas e interpretar as intenções dos outros.


Sandra Blakeslee escreve no “The New York Times”:

Há 15 anos, num verão em Parma, na Itália, um macaco esperava em um laboratório que os pesquisadores voltassem do almoço. Delicados fios haviam sido implantados na região do seu cérebro que planeia e executa movimentos.

Todas as vezes que o macaco agarrava ou movimentava um objeto, algumas células dessa região do cérebro disparavam e um monitor registava um som.

Um aluno de pós-graduação entrou no laboratório com um gelado na mão.

O macaco olhou fixamente para ele e, em seguida, algo espantoso aconteceu: quando o estudante levou o gelado aos lábios, o monitor soou novamente – mesmo o macaco não tendo feito nenhum movimento, apenas observado o aluno.

Os pesquisadores, chefiados por Giacomo Rizzolatti, um neurocientista da Universidade de Parma, já tinham observado esse mesmo estranho fenômeno com amendoins.

As mesmas células cerebrais disparavam quando o macaco via seres humanos ou outros macacos levarem amendoins à boca ou quando ele próprio fazia isso.

Os cientistas descobriram células acionadas quando o macaco quebrava a casca de um amendoim ou ouvia alguém fazê-lo. O mesmo ocorria com bananas, uvas e todo tipo de objectos.

"Demoramos anos para acreditar no que estávamos a ver", diz Rizzolatti.

O cérebro do macaco tem uma classe especial de células, os neurônios-espelho, que disparam quando o animal vê ou ouve uma acção e quando a executa por conta própria.

Mas, se essas descobertas, publicadas em 1996, surpreenderam a maioria dos cientistas, uma recente pesquisa deixou-os estupefatos.

Descobriu-se que os seres humanos têm neurônios-espelho muito mais perspicazes, flexíveis e altamente evoluídos do que os encontrados nos macacos, um fato que teria resultado na evolução de habilidades sociais mais sofisticadas nos seres humanos.

O cérebro humano tem múltiplos sistemas de neurônios-espelho especializados em executar e compreender não apenas as acções dos outros, mas suas intenções, o significado social do comportamento deles e as suas emoções.

"Somos criaturas requintadamente sociais", diz Rizzolatti. "Os neurônios-espelho permitem-nos captar a mente dos outros não por meio do raciocínio conceptual, mas pela simulação directa. Sentindo e não pensando."

A descoberta está a abalar várias disciplinas científicas, alterando o entendimento de cultura, empatia, filosofia, linguagem, imitação, autismo e psicoterapia. E também de factos do quotidiano.

Os neurônios-espelho revelam como as crianças aprendem, por que as pessoas gostam de determinados tipos de desporto, dança, música e arte, por que assistir a cenas de violência nos mídia pode ser perigoso e por que há quem goste de pornografia.

Encontradas em várias partes do cérebro, estas células disparam em resposta a cadeias de acções relacionadas a intenções.

Algumas são accionadas quando uma pessoa estende a mão para agarrar num copo ou observa alguém a agarra-lo; outras disparam quando a pessoa coloca o copo sobre a mesa e outras ainda quando a pessoa estende a mão para agarrar uma escova de dentes e assim por diante.

Elas reagem quando alguém chuta uma bola, vê uma bola ser chutada e diz ou ouve a palavra "chutar".

"Quando me vêm executar uma acção, automaticamente simulam a acção no vosso cérebro", diz Marco Iacoboni, neurocientista da Universidade da Califórnia, Los Angeles (UCLA), que estuda o tema.

"Circuitos cerebrais inibem-nos de mover, mas entendemos as acções porque temos no nosso cérebro um padrão dessa acção"

Em resumo, ao observar a acção de outra pessoa, conseguimos interpretar suas intenções.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

As distâncias em formação

Muitos formandos nos abordam questionando acerca das distâncias a observar em formação profissional. Para respondermos a esta solicitação temos de abordar um aspecto particular da comunicação não verbal - A comunicação proxémica

O termo proxêmica (proxemics, em inglês) foi cunhado pelo antropólogo Edward T. Hall em 1963 para descrever o espaço pessoal de indivíduos num meio social, definindo-o como o "conjunto das observações e teorias referentes ao uso que o homem faz do espaço enquanto produto cultural específico". Descreve as distâncias mensuráveis entre as pessoas, conforme elas interagem, distâncias e posturas que não são intencionais, mas sim resultado do processo de aculturação. É um exemplo de proxêmica quando um indivíduo que encontra um banco de praça já ocupado por outra pessoa numa das extremidades, tende a sentar-se na extremidade oposta, preservando um espaço entre os dois indivíduos.

As distancias são normalmente classificadas como:


Distância íntima: para abraçar, tocar ou sussurrar; envolve contacto físico entre os corpos; não permitida em habitual em público na maior parte das culturas (0-45 cm);
Modo próximo: maior proximidade possível, contacto entre a pele e músculos;(comunicação tacêsica)
Modo afastado: apenas as mãos estão em contacto; proximidade provoca visão distorcida do outro, distância na qual se fala aos sussurros.

Distância pessoal: para interação com amigos próximos; distância que o indivíduo guarda dos outros (45-120 cm);
Modo próximo: permite tocar no outro com os braços; a posição/distância revela o relacionamento que existe entre os indivíduos;
Modo afastado: limite do alcançe físico em relação ao outro; distância habitual da conversação pessoal;

Distância social: para interação entre conhecidos; definida por Hall como o "limite do poder sobre outrém"; a esta distância os indivíduos não se tocam.(1,2-3,5 m);
Modo próximo: adotado quando várias pessoas dividem o mesmo espaço de trabalho ou em reuniões pouco formais;
Modo afastado: adotado quando de relações sociais ou profissionais formais;

Distância pública: para falar em público; situa-se fora do círculo mais imediato do individuo; vista em conferências. (acima de 3,5 m).
Modo próximo: relações formais; permite a fuga ou a defesa caso o indivíduo se sinta ameaçado;
Modo afastado: modo no qual a possibilidade de estabelecer contacto com alguém é nula, devido à distância.

Hall indicou que diferentes culturas mantêm diferentes padrões de espaço pessoal. Nas culturas latinas, por exemplo, aquelas distâncias relativas são menores e as pessoas não se sentem desconfortáveis quanto estão próximas das outras; nas culturas nórdicas, ocorre o oposto.

As distâncias pessoais também podem variar em função da situação social, do gênero e de preferências individuais.

Importa agora contextualizar esta informação no domínio da formação profissional:

Relação entre distâncias e médodos

Parece óbvio que independentemente do método utilizado a distância íntima raramente poderá ser utilizada numa relação pedagógica entre formadores e formandos. As excepções serão mesmo algumas aprendizagens do dominio psico-motor em que a proximidade e até o contacto se tornam inevitáveis e alguns jogos do dominio afectivo em que essa proximidade é intencionalmente promovida com objectivos bem definidos.

Para analizarmos as distâncias pessoal, social e pública já teremos de levar em conta o tipo de método pedagógico utilizado;
Os métodos directivos (Expositivos, Demonstrativos e Interrogativos) são métodos cuja natureza implica uma completa demarcação formal entre o formador e os formandos sob pena de perdermos o controlo dos grupos. Atendendo a este facto devemos fazer uso de todos os instrumentos disponiveis para promover e manter essa formalidade, entre os quais a distância social, indicada, como ja referimos, para relações sociais e profissionais formais.

No caso dos métodos não-directivos (Activos) o formador deve por definição colocar-se ao nivél dos formandos, funcionar como recurso, gestor e animador, promovendo a interacção entre todos os elementos e, no respeito pelas diferenças, a sua própria integração e dos formandos num grupo uno. Estas particularidades pressupôem um relação mais próxima também em termos espaciais, resultando que a distância ideial a observar seja a distância pessoal.

A distância pública não encontra grandes aplicações no contexto de formação profissional, sendo apenas utilizada em algumas apresentações expositivas direccionadas para grandes grupos.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

O Método demonstrativo (Sérgio, Aida, Michel, Susana, Formandos do curso de FPIF, de Rio Maior)

O método demonstrativo é o mais indicado para ensinar a realizar uma tarefa, com base numa demonstração.

O método demonstrativo, inclui sempre 3 fases comuns a todas as versões;

- O formador demonstra lentamente, explicando os passos chave a dar.

- O formador e os formandos executam em conjunto sem que o formador permita atrasos ou avanços na execução.

- Os formandos executam sozinhos e o formador vai analisando as diferentes etapas e quais os desvios às mesmas.

Sendo estas as fases:

Antes:

- Preparar o material necessário para as demonstrações;
- Definir os objectivos;
- Cativar/ Motivar os participantes;
- Informar objectivos da demonstração;
- Explicar a operação.

Durante:

- O formador explica sozinho passo a passo;
- Os formandos e o formador executam ao mesmo tempo sob observação do formador;
- Os formandos realizam a tarefa sozinhos.

Depois:

- Fazer uma síntese;
- Esclarecimento de duvidas;
- Avaliação de resultados.

As principais características do método;

- Devido ás três fases de demonstração, requer mais tempo do que qualquer outro método de ensino.
- Funciona principalmente com grupos pequenos, visto existir uma grande interacção entre os formandos e o formador.
- O formador é sempre o líder do grupo, como tal tem de dominar o tema em demonstração.
- A principal ferramenta de trabalho é a demonstração do tema.

Vantagens:

- Interactividade entre formandos e formador;
- Melhor aprendizagem pela parte dos formandos.

Desvantagens:

- Necessidade de tempo;
- O formador tem de reunir uma elevada quantidade de material para as sessões;
- É indicado para um número reduzido de formandos, devido à grande interactividade.

Métodos Activos (Grupo FPIF de Rio Maior; Filipe Nunes, Gonçalo Almeida e Luís Bernardino)

Estes métodos baseiam-se na não directividade, o formador é um “treinador” que dá as coordenadas aos formandos. Desta forma os formandos através de diversos processos
dinâmicos delegados pelo formador, aprendem de uma forma mais rápida.
Os formados ficam mais envolvidos, o que facilita a vontade de aprender (motivação).
Este método permite o formando auto-avaliar a sua prestação de uma forma mais consciente.

Todos os métodos activos devem respeitar algumas premissas:
- As regras, tais como recursos e papéis no grupo devem ser transmitidos antes da tarefa iniciar
- O saber flui do formador para os formandos e vice-versa
- As conclusões têm de ser sempre discutidas entre todos os formandos e posteriormente apresentadas em público

- O formador deve preparar recursos que permitam diferentes abordagens e perspectivas
- Este método não é limitativo, existe liberdade de escolha dos conteúdos
- Quando não é possível dar a oportunidade de escolha aos formandos, deve promover-se a liberdade de aplicação dos mesmos
- Nas sínteses parcelares deve-se sempre reforçar as conclusões do formador, assim como as dos formandos
- Nas avaliações parcelares deve existir um acompanhamento dos formandos, não esquecende as avaliações intermédias

Este método é utilizado em Visitas de estudo, Seminário, Jogos e enigmas, Forúm ou plenário, Debate, Discussão em grupo, Grupos de Trabalho, Brainstorming, Estudo de caso, Workshops.

Método expositivo (Ana Tirano; Daniela Lopes; Fátima Batista; Hélia Esteves, Curso FPIF de Rio Maior)

O grupo de formação inicial de formadores de Rio Maior é composto por 16 formandos de idades várias e de várias áreas de formação. Reunimo-nos três vezes por semana em sessões de três horas, durante três meses, temos objectivo comum de no final estarmos aptos para dar formação a novos formandos .

Ao longo da formação já foram abordados várias unidades temáticas fundamentais para o processo da aprendizagem.

Neste artigo vamos realçar o método expositivo. Este método é o mais utilizado no sistema de ensino e caracteriza-se por ser um método directivo em que a informação flui apenas por parte do formador para os formandos, que por sua vez têm um papel passivo.

Todas as etapas necessárias para por em prática este método (preparação, desenvolvimento e conclusão) são da inteira responsabilidade do formador.
Este método pode ser aplicado em diversas situações, sendo o ideal numa situação em que se pretenda exclusivamente a transmissão de informação.

Como todos os métodos, este também tem as suas vantagens e desvantagens.
Quanto às primeiras enunciamos o facto de permitir a transmissão de grande quantidade de informação num curto espaço de tempo a um número elevado de pessoas.
Também para o desenvolver destacamos que necessita de poucos recursos para ser concretizado.

Quanto as desvantagens, destacamos que não permite obter o feedback dos participantes, pelo que o formador não tem percepção da apreensão e compreensão do transmitido por parte dos assistentes. Não motiva as pessoas uma vez que, na maioria dos casos, torna-se muito monótono e sem interactividade entre formandos e formadores.

Assim, consideramos que este método deve ser cuidadosamente pensado e adequado ao grupo, ao tema e ao tempo disponível.

O MÉTODO INTERROGATIVO (Vânia Santos, Sara Dias, Júlio Marques e Rita Cameiro, formandos do curso FPIF de Rio Maior)


O método interrogativo pertence aos métodos directivos. Este método consiste no processo de pensamento independente e activo de aprendizagem.
Este método tem como pressuposto focar a aprendizagem no formando, levando este a descobrir conhecimentos que tinha em si e que desconhecia, tudo isto realizado através de perguntas, estas deverão conduzir os formandos e não induzi-los.

O método interrogativo é constituído por duas fases (ou grupos de perguntas) distintas:

A ironia
Conjunto de perguntas iniciais que visam colocar os formandos em contradição consigo próprios, gerando com esse conflito interno o desequilíbrio necessário para motivar uma nova aprendizagem.

A maiêutica
Conjunto de perguntas que conduzem os formandos à descoberta à resolução do conflito; solução.

Tal como em todos os métodos, também este tem vantagens e desvantagens, vejamos:

Vantagens
- O feedback é constante;
- Dinâmico e participativo;
- As palavras do formando têm lugar de relevo, aumentando a sua motivação;
- Favorece a empatia entre formandos e formador;
- A troca de opiniões, promove a retenção de informação.

Desvantagens
- Utiliza-se para um número reduzido de formandos;
- A informação leva mais tempo a ser tratada;
- O formador tem mais trabalho de preparação e de conhecimentos;
- Como é o formador que apresenta a estrutura do raciocínio, o formando não resolve totalmente as questões colocadas.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Inteligência emocional



"A Inteligência emocional define-se como a capacidade de reconhecer os nossos sentimentos e os dos outros, de nos motivarmos e de gerirmos bem as emoçoes em nós e nas nossas relações" (in Trabalhar com inteligência emocional, Daniel Goleman, p.323)

O emprego mais antigo de um conceito similar ao inteligência emocional remonta a Charles Darwin, que na sua obra referiu a importância da expressão emocional para a sobrevivência e adaptação. Embora as definições tradicionais de inteligência enfatizem os aspectos cognitivos, como memória e resolução de problemas, vários pesquisadores de renome no campo da inteligência estão a reconhecer a importância de aspectos não-cognitivos.

Em 1920, o psicometrista Robert L. Thorndike, na Universidade de Columbia, usou o termo "inteligência social" para descrever a capacidade de compreender e motivar os outros. David Wechsler, em 1940, descreveu a influência dos factores não-intelectuais sobre o comportamento inteligente, e defendeu ainda que os nossos modelos de inteligência não estariam completos até que que esses factores não pudessem ser adequadamente descritos.

Em 1983, Howard Gardner, na sua teoria das inteligências múltiplas, introduziu a ideia de incluir tanto os conceitos de inteligência intrapessoal (capacidade de compreender a si mesmo e de apreciar os próprios sentimentos, medos e motivações) quanto de inteligência interpessoal (capacidade de compreender as intenções, motivações e desejos dos outros). Para Gardner, indicadores de inteligência como o QI não explicam completamente a capacidade cognitiva. Assim, embora os nomes dados ao conceito tenham variado, há uma crença comum de que as definições tradicionais de inteligência não dão uma explicação completa sobre as suas características.

O primeiro uso do termo "inteligência emocional" é geralmente atribuído a Wayne Payne, citado em sua tese de doutoramento, em 1985. O termo, entretanto, havia aparecido anteriormente em textos de Hanskare Leuner (1966). Stanley Greenspan também apresentou em 1989 um modelo de inteligência emocional, seguido por Peter Salovey e John D. Mayer (1990), e Goleman (1995).

Na década de 1990, a expressão "inteligência emocional", tornou-se tema de vários livros (e até best-sellers) e de uma infinidade de discussões em programas de televisão, em escolas e mesmo em empresas. O interesse da mídia foi despertado pelo livro "Inteligência emocional", de Daniel Goleman, redator de Ciência do The New York Times, em 1995. No mesmo ano, na capa da edição de Outubro, a revista Time perguntava ao leitor - "Qual é o seu QE?" - apresentando um importante artigo assinado por Nancy Gibbs sobre o livro de Goleman e despertando o interesse dos média sobre o tema. A partir de então, os artigos sobre inteligência emocional começaram a aparecer com frequência cada vez maior por meio de uma ampla gama de entidades académicas e de periódicos populares.

A publicação de "The Bell Curve" (1994) pelo psicólogo e professor da Universidade de Harvard Richard Hermstein e pelo cientista político Charles Murray lançou controvérsias em torno do QI. Segundo os autores, a tendência era que a sociedade moderna se estratificasse pela definição de inteligência, não pelo poder aquisitivo ou por classes. O que causou maior polêmica e indignação por parte de inúmeros sectores da sociedade foi a afirmação dos autores de que, no que diz respeito à inteligência haveria diferenças entre as etnias.